Joana naquela tarde não queria nada, só queria se lembrar da sensação dos seus cabelos soltos ao vento, de lembrar que um dia achou graça ao se olhar no espelho e que um dia teve vida batendo em seu coração.
Mas agora ela estava ali, sentada na frieza — que só os bancos cinzas conseguem conceber— tentando se aquecer com alguns poucos feixes de sol, que insistiam ultrapassar as folhas das árvores e que em alguns momentos lhe causavam uma certa irritação nas vistas. Vistas esta que já viram tantas coisas, tantas cores, tantas risadas, e que agora presas dentro de um glóbulo opaco, pouco conseguiam avistar além de sombras.
Suas mãos frias, contribuíam para que a sensação gélida, encobrisse seu corpo, deixando seus lábios mais violetados, ultrapassando aos poucos as marcas deixadas pelo batom vermelho que naquela manhã ousou usar.
Naquela manhã quando observou seu reflexo, Joana lembrara do último beijo que dera em seu amado, de como lhe arrancava sorrisos por nunca conseguir deixar sua maquiagem no devido lugar. Ela sempre fora assim, um pouco de blush e de batom; borrados, e por ser livre na sua inocência de não pretender ser bela, fora amada, amada sem promessas de intimidade, mas amada a tal ponto que resolvera ficar.
E foi ficando, sem perceber que aos poucos ele se afastava. Da primeira vez fora somente horas de espera, depois fora se acostumando com as 24h subsequentes, sem perceber que os dias se transformaram em meses e nestes meses passou-se toda uma vida.
Dani Raphael
Imagem PEXELS
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