Quero apenas ter o direito de ser eu
Em meio ao meu cabelo desajeitado,
Meu batom borrado,
Minhas unhas roídas, por fazer,
Quero apenas ser eu.
Remoendo minhas falhas
E rasgando as poesias que
Machucam minha alma,
Para logo em seguida reescrevê-las
E dizer: está bem, está tudo bem.
Quero, mas quero muito,
O meu direito de andar descalça,
De sentar no banco da praça
Sem a pressa de ter algo para fazer.
Quero meu direito de seguir existindo
Em palavras, em cantos, em lágrimas,
Que derramo todas as vezes que o canto
Me leva de volta a algum lugar do passado
Que eu queira esquecer.
Quero meu direito de ser livre,
De mudar de casa, mudar de bairro,
Quiçá de país,
Sem me preocupar com as malas,
E ao mesmo tempo levando, em caixas,
Cada um dos livros que eu li.
Quero apenas me ser
E me ter,
Em meio aos turbilhões que fazem meu peito
Doer de tanto bater descompassado,
E que, depois, me fazem dizer:
Vai ficar tudo bem.
Sim,
Eu sei que tudo vai ficar bem,
Mas hoje quero apenas o meu direito de ser diferente
E novamente re(dizer):
Vai ficar tudo bem.
Foto: Carol Barra
Comments