Por Dani Raphael
Vejo-me perdida no agora, dispersa, entre as encruzilhadas que ainda não pisei e as que me causaram ânsia, mesmo antes de tê-las adentrado. E quantas vezes adentrei em ruas que não me davam saídas, esquinas curvas e escuras, prédios em construção, lápides cinzas; esquecidas por quem nunca fez questão de lembrar.
Vejo-me fosca e ferida, sangrando do sangue de quem deu a vida, mas não recebeu a luz.
E nesta noite, enquanto me acho entre as fotografias que não foram guardadas, me reconheço como alguém que um dia foi sonho e que viveu distante do que é real, como alguém que foge do sentido da palavra sentida, que se esconde em recortes de noticias falsas de jornais.
Queria poder detalhar o que existe dentro do quarto do qual não quero entrar, porquê a visão do que contém atrás da porta me apavora, por me obrigar a ser livre e livre foi algo que não aprendi a ser.
Prefiro que guardem de mim a desesperança do que eu Era, do que tragam o registro na lápide de alguém que ousou, mas não conseguiu ser.
Prefiro que tudo permaneça estático, enquanto permaneço perdida na escuridão que já conheço. A luz, essa sim me causa medo, por que me obriga olhar o que não vejo, e que me vejam com a roupa de fuga, aquela que me ajuda a fugir do que Sou e que tenho medo de Ser, porque o Ser causa rompimentos e já me acostumei com o sangue que jorra e que me torna apática.
Imagem pexels
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