Em Ana tudo é bege, como o bege que encobre seus entrededos, dispostos em uma palma levemente rosada. Cortinas beges, tapetes beges, e até mesmo o lençol no qual se emaranha nas noites frias, tentando não sentir o vazio das paredes pálidas, também é bege.
Mas nesta manhã, ao vestir seu vestido bege, com leve florido monocromático, se olhou pela primeira vez; com olhos de descobertas, e ousou usar outro batom. Batom que há muito estava ali guardado, dentro do embrulho do último presente que recebeu, de quem também um dia ousou amar, e relembrou do tempo em que ousava, e que sentia, e que queria. Então calçou seus sapatos, que também há tempos estava guardado e sorriu.
Abriu a porta, como quem recebe a tão esperada visita, e saiu. Saiu dos seus medos, dos seus silêncios, saiu dos seus desamores, saiu para a vida, como quem sai sem pressa para voltar.
Por Dani Raphael
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